Na primeira partida da final da Libertadores o Fluminense foi um time irreconhecível. Perdeu de 4 x 2 e ainda podia ter levado mais. Por incrível que pareça, foi de bom tamanho. Agora a torcida Tricolor espera por mais um milagre, confiante no retrospecto favorável do Tricolor das Laranjeiras.
O moderno e belíssimo estádio Casablanca estava completamente lotado. A comemoração era imensa na entrada dos times a campo. Logo as dois minutos a torcida foi a loucura. Em cruzamento de Guerron, Bieler antecipou Thiago Silva e marcou o primeiro gol da LDU. Nos minutos seguintes, o time do Fluminense mostrava uma dispersão e falta de concentração constantes, não era à toa que Bolaños, Guerron e Manso faziam a festa na intermediária adversária, não eram incomodados em nenhum momento. Como é de costume nos jogos do Tricolor a reação foi imediata, e aos 10 minutos Washington recebeu de Conca na frente do gol, mas chutou em cima de Cevallos. Mesmo assim, o Fluminense crescia do meio pra frente e Thiago Neves começava a conseguir evoluir. Numa de suas tentativas sofreu falta por trás, que inexplicavelmente não foi punida pela árbitro. Conca cobrou com perfeição incomum e empatou o jogo. Tudo voltava ao normal...
Num momento onde o Flu começava a dominar o jogo, a LDU marcou o segundo com Guerron. O time sentiu o golpe e começou a desmoronar. Foi um gol atrás do outro. A zaga Tricolor, antes dita como uma das melhores do Brasil, falhava a todo momento. O meio campo, muito mal posicionado e dando todos os espaços possíveis para o adversário, não conseguia criar muito menos marcar. Cícero era de uma lentidão risível. Não cobria Júnior César, que levava um baile de Guerron (não foi surpresa nenhuma) e não marcava na intermediária. Washington não conseguia segurar nenhuma bola no meio campo. O mais impressionante era a zaga. Os imponentes Thiago Silva e Luiz Alberto estavam desnorteados. Pressão, altitude, atitude, nervosismo, são diversos os motivos que podíamos apontar; mas nenhum deles explicará por completo o apagão que aconteceu com o Fluminense nos primeiros 45 minutos em Quito.
A vergonha e revolta estava expressa nos olhos do símbolo do time dentro de campo, Thiago Silva. Não conseguia levantar a cabeça. Olhava para seus pés com o vexame que o time estava passando naquele momento. Na volta do intervalo, Reanto Gaúcho veio sem alterações. Dizia que faltava vergonha na cara. E realmente faltava. O time começou um pouco melhor o segundo tempo e conseguiu marcar um gol com Thiago Neves. O placar parecia menos ruim, o desastre estava diminuindo. Porém a postura covarde e medrosa do time continuava igual. A diferença foi o posicionamento no meio campo e na zaga que melhoraram razoavelmente. O Tricolor ainda teve duas chances em chutes de Cícero (extremamnete egoísta no lance) e Conca que chutou bem, mas Cevallos espalmou. Renato demorou a colocar Dodô que quando entrou, nada fez.
Impreessionantemente aos 37 minutos, Renato já estava satisfeito com o resultado. A confiança na força do time no Maracanã é o que impulsionava todo esse otimismo; acompanhado de Thiago Neves, que sem ter conhecimento do desastre que aconteceu em Quito, disse que tinha "quase certeza" de que tinha feito o gol do título. Como já é de praxe, Luiz Alberto o capitão, foi o mais sóbrio ao analisar a partida: "Foi horrível, estávamos no mundo da Lua. Ficou difícil, mas nada é impossível". As declarações do técnico no vestiário exprimiam o mesmo otimismo de sempre: "Está tranquilo, temos todas as condições de reverter. A torcida não pode deixar de ir, quem for vai ver muita coisa".
Apesar do desastre que aconteceu nos primeiros 45 minutos, o Fluminense ainda tem condições de reverter, e ninguém duvida. A campanha do time da Laranjeiras é uma das mais impressionantes dos últimos anos, ainda mais para um time brasileiro. O grupo da morte (comprovado com essa final) ficou para trás com o primeiro lugar geral, o São Paulo grande campeão brasileiro também, sem falar do temível Boca que não era eliminado faziam 45 anos. Tudo isso mostra que é possível a virada, mas sempre com aquele pé atrás. É uma final, a LDU é um time perigosíssimo e adora jogar nos contra ataques com Guerron e Bollanos. O time terá que mais uma vez se superar e mostrar que merece mais do que nunca esse título. Parece que cada degrau que o Flu passa, a conquista se torna mais difícil. Dessa vez a barreira é mais alta, as dificuldades são muito maiores. A prova final da superação e talento será na próxima quarta feira. Como diria Nelson Rodrigues, os vivos e mortos estarão lá, todos para acompanhar mais um capítulo da saga do Tricolor das Laranjeiras.