Pode não ter o melhor elenco, pode não ter o melhor futebol, pode não ser o mais técnico, mas os números são incontestáveis. O Botafogo é bicampeão da Taça Rio com todos os méritos e merecimentos. Melhor defesa, melhor ataque, maior artilheiro e em sete clássicos foram seis vitórias e apenas uma derrota. Números que não deixam dúvidas da excelente campanha que faz o técnico Cuca e seus comandados. E nesse domingo foi a última mostra de um time que começa a mostrar que aprendeu com os erros do ano passado e da final da Taça Guanabara contra o Flamengo. Mas a grande decisão está por vir. E contra um time que esta engasgado. Apesar das duas e boas últimas vitórias contra os rubro-negros, na hora 'H' o time ainda não bateu o eterno rival. Vai ter mais uma chance em 180 minutos. Com certeza vão ser dois jogões de bola que promete arrepiar a final do campeonato e lotar o Maraca.
Antes de qualquer coisa, precisamos tirar o chapéu e ao mesmo tempo criticar a federação do Rio. Durante todo o campeonato tanto eu, quanto nosso amigo Thiago e outros tantos comentaristas, criticaram duramente a forma de disputa do Carioca e a condução do mesmo pela péssima administração do futebol do Rio de Janeiro. Ontem pela primeira vez, foram dignos de um elogio. O espetáculo ficou ainda mais bonito sem aquele grande número de crianças, repórteres e outras pessoas no campo atrasando o início da partida. A outra foi a entrada dos dois times juntos perfilados (como acontece nos jogos da Copa do Mundo), ficou muito mais bonito. Outro ponto a ser ressaltado é na hora da comemoração do título alvinegro. Apenas os jogadores, sem invasão de torcida. Mas claro que a federação presidiada por Rubens Lopes não poderia deixar de passar sem um erro. A tentativa de colocar mais dois assistentes (cada um atrás de um gol) desrespeitou o regulamento da FIFA e criou polêmica antes da partida. Sem contar que no final das contas, eles não serviram de nada.
Falando de futebol ,tecnicamente, foi muito abaixo do esperado. Apenas três lances bonitos no jogo todo e apenas duas chances construídas em pouco mais de 90 minutos. Thiago Neves, apesar de jogar mal na partida, participou de dois lances, sendo um deles capital. No primeiro um passe genial para Washington que sofre a penalidade, que mais tarde perderia e decretaria a história do jogo. Depois uma jogada, e um drible desconsertante no lateral-zagueiro Triguinho (que mais tarde machucou. Será que o drible teve efeito?). Em outro lance, agora do outro lado, quase sai um golaço. Aqueles de placa. Alessandro pegou a bola na lateral direita, afunilou o jogo e foi para o meio. Carregou a bola tranquilamente até ser marcado por Júnior César. Com um leve toque na bola deixou o lateral tricolor a ver navios e chutou com precisão, mas a bola caprichosamente bateu na trave. E isso foi tudo no jogo. Calma, quase tudo.
Agora entra o principal personagem de uma história que vem desde o começo de 2007. Um jovem e promissor zagueiro do futebol carioca foi envolvido no doping pelo uso da maconha. Seu clube? Fluminense. Visto que o caso era grave, foi dispensado pelo tricolor. Cuca o revelou no Goiás. Túlio também o conhecia de lá e os dois juntos ajudaram a levar o pobre rapaz a General Severiano (sede do Botafogo). A história que parecia ter um final feliz, ganhou uma trama ainda maior. O zagueiro não se firmou, entrava pouco e jogava mal. A torcida pegava no pé e a sua saída no final do ano era dada como certa. Nem dirigentes do próprio Botafogo o queriam por lá. Mas o técnico "paizão" apostou no garoto. E hoje ao invés de vaias, escuta aplausos. Que aumentaram no domingo, após os 39 minutos do segundo tempo. Em um chute que virou cruzamento do fraquíssimo Fábio, ele entrou de carrinho e marcou o gol do título. A comemoração (muito parecida com a de Maurício no título de 89) foi de desabafo e de muita alegria. O Botafogo sagrava-se bicampeão da Taça Rio e garantia vaga na final contra o Flamengo. E muito se deve a esse garoto humilde. Pois brilhou a estrela solitária de Renato Silva.